Capítulo II

Deus vem ao encontro do homem

Introdução

Embora o homem possa conhecer Deus com certeza pela razão natural, observando as suas obras, existe uma ordem de conhecimento que está além da capacidade humana: a da Revelação divina. Por uma vontade absolutamente livre, Deus revela-Se e dá-Se ao homem, manifestando o seu mistério e o desígnio benevolente que, desde toda a eternidade, estabeleceu em Cristo, em favor de todos os homens. Este desígnio é plenamente revelado com o envio do seu Filho bem-amado, nosso Senhor Jesus Cristo, e do Espírito Santo.​


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Subsecções de Capítulo II (50)

Artigo 1

A Revelação de Deus

I. Deus revela o seu desígnio benevolente

Deus, em sua sabedoria e bondade, decidiu revelar-Se e dar a conhecer o mistério de Sua vontade, segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina. Deus deseja comunicar Sua própria vida divina aos homens que criou livremente, para fazer deles, em Seu Filho único, filhos adotivos. Revelando-Se, Deus quer tornar os homens capazes de Lhe responder, de O conhecerem e de O amarem, muito além do que seriam capazes por si próprios.​

O desígnio divino da Revelação realiza-se por meio de ações e palavras, intrinsecamente relacionadas entre si e que se esclarecem mutuamente. Deus comunica-Se gradualmente ao homem, preparando-o por etapas para receber a Revelação sobrenatural que faz de Si próprio, culminando na Pessoa e missão do Verbo encarnado, Jesus Cristo.​

II. As etapas da Revelação
Desde a origem, Deus dá-Se a conhecer

Desde o princípio, Deus manifestou-Se aos nossos primeiros pais, convidando-os a uma comunhão íntima consigo, revestindo-os de graça e justiça resplandecentes. Mesmo após o pecado original, Deus não os abandonou, prometendo redenção e dando-lhes esperança de salvação. Deus cuidou continuamente da humanidade, para dar vida eterna a todos os que perseveram na prática das boas obras.​

A aliança com Noé

Após a desunião causada pelo pecado, Deus procurou salvar a humanidade intervindo com cada uma de suas partes. A aliança com Noé, após o dilúvio, expressa o princípio da economia divina em relação às “nações”, ou seja, aos homens reagrupados por países, línguas, famílias e nações. Essa aliança permanece em vigor enquanto durar o tempo das nações, até à proclamação universal do Evangelho.​ Vaticano

Deus elege Abraão

Para reunir a humanidade dispersa, Deus escolhe Abrão, chamando-o para deixar sua terra e prometendo fazer dele “pai de uma multidão de nações”. O povo descendente de Abraão será o depositário da promessa feita aos patriarcas, o povo eleito, chamado a preparar a reunião de todos os filhos de Deus na unidade da Igreja.​

Deus forma o seu povo Israel

Deus formou Israel como seu povo, revelando-Se a ele por meio de Moisés e dando-lhe a Lei, para que reconhecesse a Deus como único Senhor e esperasse o Salvador prometido. Os profetas anunciaram uma redenção radical do povo, uma purificação de todas as suas infidelidades, uma salvação que incluiria todas as nações. Acima de tudo, os pobres e humildes do Senhor carregaram essa esperança.​

III. Cristo Jesus – Mediador e plenitude de toda a Revelação

Deus disse tudo em Seu Filho único, Jesus Cristo, que é a Palavra definitiva do Pai. Cristo, sendo o Filho eterno de Deus feito homem, é a plenitude de toda a Revelação. Não haverá outra revelação após Ele.


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Artigo 2

A transmissão da revelação divina

I. A Tradição Apostólica

Deus deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Para isso, Cristo deve ser anunciado a todos os povos. Cristo confiou aos Apóstolos a missão de pregar o Evangelho, comunicando-lhes os dons divinos. Esta transmissão do Evangelho ocorreu de duas formas: oralmente, através da pregação dos Apóstolos, e por escrito, por meio dos textos inspirados. A pregação apostólica foi transmitida por sucessores, garantindo a continuidade da fé. A Tradição viva da Igreja assegura que a Palavra de Deus permaneça presente e ativa, com o Espírito Santo guiando os crentes à verdade plena.​

II. A Relação entre a Tradição e a Sagrada Escritura

A Tradição Sagrada e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas, derivando da mesma fonte divina. A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus escrita por inspiração divina, enquanto a Tradição conserva e transmite a Palavra de Deus confiada por Cristo aos Apóstolos. Ambas constituem o depósito sagrado da Palavra de Deus, confiado à Igreja.​

III. O Magistério da Igreja

A interpretação autêntica da Palavra de Deus, escrita ou transmitida, foi confiada ao Magistério vivo da Igreja, exercido pelos bispos em comunhão com o Papa. Este Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a serve, ensinando apenas o que foi transmitido. Os fiéis devem acolher com docilidade os ensinamentos de seus pastores, reconhecendo que quem os escuta, escuta a Cristo.​

IV. O Sentido Sobrenatural da Fé

Todos os fiéis participam na compreensão e transmissão da verdade revelada, graças à unção do Espírito Santo. Este sentido da fé permite ao povo de Deus aderir indefectivelmente à fé, penetrá-la mais profundamente e aplicá-la na vida.​

V. O Crescimento na Inteligência da Fé

A inteligência das realidades e palavras do depósito da fé pode crescer na vida da Igreja através da contemplação e estudo dos crentes, da inteligência interior das coisas espirituais e da pregação daqueles que receberam o carisma da verdade.​ Vaticano

VI. A Inter-relação entre Tradição, Escritura e Magistério

A Tradição Sagrada, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão de tal maneira ligados que nenhum pode subsistir sem os outros. Todos juntos contribuem eficazmente para a salvação das almas.​

VII. Resumo

Cristo confiou aos Apóstolos a missão de transmitir o Evangelho, que foi perpetuado pela pregação e escritos sob a inspiração do Espírito Santo.​

  • A Tradição Sagrada e a Sagrada Escritura formam um único depósito sagrado da Palavra de Deus.​

  • A Igreja, em sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite tudo o que é e acredita.​

  • Graças ao sentido sobrenatural da fé, o povo de Deus acolhe, penetra e vive mais plenamente o dom da Revelação divina.​

  • A interpretação autêntica da Palavra de Deus é confiada ao Magistério da Igreja, ao Papa e aos bispos em comunhão com ele.​


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Artigo 3

A Sagrada Escritura

I. Cristo – Palavra única da Sagrada Escritura

Deus, em sua bondade, revelou-Se aos homens falando-lhes em palavras humanas. Assim como o Verbo eterno do Pai assumiu a carne da fraqueza humana, as palavras de Deus expressas por línguas humanas tornaram-se semelhantes à linguagem humana. Por meio de todas as palavras da Sagrada Escritura, Deus pronuncia uma só Palavra, seu Verbo único, no qual se expressa por inteiro. A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras como venera também o Corpo do Senhor, apresentando aos fiéis o Pão da vida tomado da Mesa da Palavra de Deus e do Corpo de Cristo. Na Sagrada Escritura, a Igreja encontra incessantemente seu alimento e sua força, pois nela não acolhe somente uma palavra humana, mas o que ela é realmente: a Palavra de Deus.​

II. Inspiração e verdade da Sagrada Escritura

Deus é o autor da Sagrada Escritura, tendo inspirado os autores humanos dos livros sagrados. Para compor os livros sagrados, Deus escolheu homens que, usando suas próprias faculdades e capacidades, escreveram tudo o que Deus queria que fosse escrito. Os livros inspirados ensinam a verdade que Deus, para nossa salvação, quis que fosse consignada nas Sagradas Escrituras. A fé cristã não é uma “religião do Livro”, mas da Palavra de Deus, que não é uma palavra escrita e muda, mas o Verbo encarnado e vivo. A Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada à luz do mesmo Espírito que a inspirou.​

III. O Espírito Santo, intérprete da Escritura

A Igreja, ao interpretar a Escritura, deve considerar o conteúdo e a unidade de toda a Escritura, a Tradição viva de toda a Igreja e a analogia da fé. As Escrituras devem ser lidas com atenção ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura, pois a diversidade dos livros não se opõe à unidade da fé. A Tradição viva da Igreja e a analogia da fé são critérios essenciais para a interpretação correta das Escrituras.​

IV. O Cânon das Escrituras

Foi a Tradição Apostólica que levou a Igreja a discernir quais os escritos que deviam ser contados na lista dos livros sagrados. Esta lista integral é chamada “Cânon” das Escrituras. Comporta, para o Antigo Testamento, 46 (45, se se contar Jeremias e as Lamentações como um só) escritos, e, para o Novo, 27. Os quatro Evangelhos ocupam um lugar central, já que Cristo Jesus é o centro deles. A unidade dos dois Testamentos decorre da unidade do projeto de Deus e de sua Revelação. O Antigo Testamento prepara o Novo, ao passo que este último cumpre o Antigo; os dois se iluminam reciprocamente; os dois são verdadeira Palavra de Deus.​

V. A Sagrada Escritura na vida da Igreja

A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor: ambos alimentam e dirigem toda a vida cristã. “Tua Palavra é a lâmpada para meus pés, e luz para meu caminho” (Sl 119,105).


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